A informação “Sabor artificial idêntico ao natural
de...” é tão comum que já aprendemos (ou estamos condicionados) a olhar para
ela como se fosse algo muito bom, do qual precisaremos sempre.
Os laboratórios são grandes palcos de mágica e nós,
químicos, os mestres ilusionistas. Lá, uma coisa vira outra, e outra, e outra;
afinal, o dinamismo das possibilidades de combinações apenas espera por mentes
analíticas e mãos habilidosas para manipulá-los.
Mas, qual o benefício da presença artificial naquilo
que comemos e bebemos?
Quando os “idênticos ao natural” chegam às indústrias
de alimento, acabam se convertendo em sabores cada vez mais distantes da
natureza que os inspirou. Morango, uva, chocolate, maçã, laranja, baunilha,
entre os tantos, contém informações sensoriais muito distorcidas daquelas
registradas na memória palatal e olfativa dos seres humanos, que através da exposição
permanente, já perderam a noção do verdadeiro e, portanto, que estão sendo
enganados.
Como assim?
Quando comemos uma fruta, seu aroma,
cor textura e sabor são sinalizadores sensoriais sobre quais as substancias
naturais, necessárias para a função celular, estamos trazendo para o corpo.
Assim, nosso metabolismo se prepara para processar todo o conjunto dos
nutrientes presentes, numa fantástica seqüência de reações bioquímicas. Porém,
quando bebemos um suco de laranja industrializado, por exemplo, a maior
presença da fruta está na imagem externa das caixas, pois estas vêm carregadas
com gomas espessantes para conferir textura e viscosidade, o éster aromatizante,
acetato de octila, corante Amarelo crepúsculo, que é
uma versão sulfonada do corante Sudan I, um possível carcinogênico. Tudo isto na tentativa de
tornar a mistura mais parecida com o néctar verdadeiro e, claro,
os conservantes para garantir que esta meleca chegue ao copo antes de
apodrecer. Imagine então o que você bebe daqueles “práticos pozinhos” para
suco?
E como fica o ácido ascórbico, nossa vedete, a
vitamina C? Ah sim, isto tem, sintético. Foi acrescentado para atuar como antioxidante,
meio estranho aos compostos naturais e equilibrados do suco verdadeiro, mas
quem se importa? Eu me importo, afinal, no suco da laranja natural temos as
flavonas, que promovem a absorção da vitamina C, que ajuda a formar colágeno
para uma pele saudável. Ainda é pouco? Que tal o efeito da hesperidina, um
componente anticancerígeno, mas que não age sozinho; acredita-se atuar em
sinergia com outros fotoquímicos procedentes do fruto?
Ao sermos enganados voluntariamente pelo “artificial idêntico
ao natural de”, em nossa mente consciente achamos que isto não terá o menor
impacto sobre nosso corpo. É até melhor, pensam alguns, o gosto é mais “forte”.
Mas, a realidade é que nossas células não pensam assim. Durante o processo evolutivo elas adquiriram a
capacidade de “trabalhar” todas as substâncias naturais integrantes da dieta e,
desta forma, os
receptores de membrana precisam dos elementos específicos, passados em primeira
informação para os sentidos. O revestimento do nosso estômago depende das
mucilagens daquele suco para sua proteção, no entanto, uma imitação grosseira
feita com gomas e corantes, acrescida de ésteres, misturas de álcool e ácido que
lhe conferem aroma e sabor, não tem o mesmo
papel e ainda acabam atacando aquelas mucosas desprotegidas do trato
gastrointestinal.
Nesta
gangorra que desperta e frustra constantemente o metabolismo, pode haver uma
resposta compulsiva alimentar que nunca será satisfeita, tendo como conseqüência
a síndrome metabólica e o comprometimento da saúde. Isto vai muito além, pois
se há mais de 23 séculos Hipócrates já dizia "Que
seu remédio seja seu alimento, e que seu alimento seja seu remédio", hoje, na contramão da vida, fazemos dele o nosso
veneno.
Texto: Romualdo Vicente De Ramos
Imagens:
http://www.neozapp.com.br/paginas/portfolio/fotografia_indice.html
http://mjccorretora.com.br/Dicas-de-saude/por-que-tomar-um-suco-de-laranja-natural